Me dou medo - Entre a fobia, o medo e o pânico

       Dentre todas as manifestações psicológicas mais comuns da contemporaneidade, a que se solidificou com o rótulo de Síndrome do Pânico infelizmente é a que conta com um tratamento medicamentoso tão impreciso quanto a própria compreensão do paciente acerca da fonte de seu sofrimento. Na busca por controlar os sintomas e afastar o indivíduo da sensação mais aterrorizante que poderia vivenciar, administram-se mais uma vez antidepressivos de todas diferentes subclasses, ou benzodiazepínicos, ou uma associação dos dois grupos de fármacos, tendo sua dosagem experimentada até que se alcance um limiar admissível através do qual o paciente não alcance nem a sobre-excitação desencadeante da crise, nem tampouco seja deixado em exagerado torpor ao longo dos dias.

       O estranhamento e indefinição experimentada pelas pessoas acometidas pelas crises de pânico dizem respeito à dificuldade em apontar a fonte de seu mal-estar. Entretanto, os sintomas experimentados são bastante constantes e característicos, e estão assim listados no DSM-V:

     Tais reações não deixam dúvida de que estejamos ouvindo a descrição de um medo mortal no sujeito em crise. Esse sentimento é bem diferenciado de outras formas de medo, pois nele, a pessoa ignora a fonte do perigo sentido, sendo muitas vezes acometida em uma situação inesperada, ainda que possa pressentir sua aproximação.

      Sensações bastante similares ocorrem com os medos designados fobias, porém, neles o objeto causador do medo é bem delineado, e o paciente ignora apenas a razão pela qual seu medo seja experimentado com tamanha desproporcionalidade a seu risco. As fobias facilmente se instalam em crianças (um medo aterrorizante de algum objeto como uma cortina, um balanço, de algum animal, etc), mas felizmente tendem a resolver-se em período satisfatoriamente curto com ou sem a intervenção de qualquer terapeuta. Isso porque tais condições são constitutivas daquilo que em psicanálise Jacques Lacan denominou “placa giratória”, um momento de transição das fantasias infantis para sua posterior acomodação em racionalizações que possam ser preservadas de forma sustentável e levadas para sua vida adulta. Intrínseco a esse processo, é que o objeto de uma fobia precisa ser reencontrado com facilidade: uma pessoa que vive na cidade, por excelência, nunca desenvolverá uma fobia de galinhas, mas possivelmente o fará com aranhas, se essas puderem ser encontradas com frequência debaixo do próximo objeto a ser levantado.

       Felizmente, os sintomas mais agudos relacionados à Síndrome do Pânico são relativamente fáceis de serem controlados na psicanálise (sendo muito mais fáceis de serem tratados do que algum paciente acometido por questões ilusoriamente simples, como uma insatisfação dispersa sobre sua vida em geral). Isso se dá por conta da percepção de que o medo desmedido se estabelece em razão de uma forma pessoal de pensamento. Tal auto-responsabilização facilita que o paciente fale sobre si, rapidamente encontrando-se no consultório com fragmentos de pensamentos que antes lhe passavam despercebidos. Trata-se de um paciente que tampouco se satisfaz e interrompe sua análise assim que os sintomas agudos estejam controlados, mas que busca respostas para seus enigmas internos, busca compreender os motivos de pensar de uma maneira que causava medo a si próprio, em um artifício que só poderá encontrar na experiência que extrairá de sua análise.